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Agosto Dourado: 6 desafios na hora de amamentar e como contorná-los

Calma, a gente vai conseguir. A gente vai resolver.” As palavras da enfermeira obstétrica Martha Goldberg*, de São Paulo, são o conselho que toda mãe que enfrenta problemas na hora de amamentar precisa ouvir. O tema é delicado e exige, realmente, muita calma. Amamentar, em muitos casos, não é algo instintivo ou inato às mães e aos bebês. É um aprendizado que precisa ser entendido não só por essa dupla, mas também pela rede de apoio que a cerca.

“Há algumas décadas, pensava-se muito que a amamentação era algo instintivo, da natureza da mulher. Pensavam que o neném nasceria, iria para o peito e mamaria. Mas hoje temos estudos e pesquisas com muita informação nesse sentido”, reflete Goldberg, que se dedica exclusivamente a esse trabalho e calcula já ter atendido milhares de mulheres ao longo dos anos. 

Dificuldades física: dores, lesões e ingurgitamento mamário

Há casos em que a amamentação acontece sem dificuldades, mas é mais comum observar mães e filhos com algum tipo de questão a ajustar, principalmente nos primeiros dias e semanas. Quando a amamentação não acontece de forma tranquila, pode causar dor e machucar o seio da mulher. 

As questões físicas são as mais aparentes e as mais impeditivas a princípio”, observa Martha. Ela explica que as razões para sentir dor são variadas. O processo de sucção do bebê pode ferir eventualmente e causar lesões no mamilo que infligem uma dor física muito grande à mulher. 

Outra experiência que pode dificultar a amamentação é o que especialistas chamam de ingurgitamento mamário, popularmente conhecido como “empedrar o peito”. A mama acaba enchendo muito por conta do leite e esse processo causa dor àquela mãe.

A nutricionista materno-infantil Viviane Vieira (@maternidadesemneura) também destaca que amamentar não é algo instintivo. “Amamentar não é natural no sentido de que o bebê não nasce e vem para o colo e a amamentação tende a fluir de forma tranquila. No geral, ela precisa ser aprendida”, explica. 

O que fazer quando a pega está errada?

O encaixe entre a boca do bebê e o mamilo da mãe é chamado comumente de pega. Por diversos motivos, essa conexão pode não acontecer da maneira devida e é preciso estimular a criança e orientar a mãe para que os dois se entendam e que a amamentação seja confortável para ambos. 

A pega depende de vários fatores. Depende, por exemplo, da abertura de boca do bebê, do formato do mamilo da mãe. É uma grande dificuldade a adaptação do bebê com a mãe na hora de sugar, de pegar o peito. O bebê nasce sugando, mas às vezes ele suga no lugar errado, então é preciso estimular essa troca”, explica Martha. 

As primeiras semanas são as mais importantes para que a amamentação ocorra de forma positiva e saudável para as duas partes. Amamentar envolve dois lados, a mãe e o bebê. “Essa lactante precisa de muito apoio para que essa duplinha se conheça, se entenda e consiga ter um bom início”, complementa Viviane. 

Segundo Martha, o bebê já nasce com o instinto de sucção presente, em situações normais. Ele sabe sugar, mas é preciso estimulá-lo sobre onde pôr a boca. Há todo um processo para adaptar a boquinha do bebê ao peito da mãe. “Alguns bebês tem isso junto com a anatomia da mãe, com o tipo de mamilo. Tem bebê que vai mamar e vai ser uma maravilha. A gente brinca que natureza deveria proporcionar isso para todo mundo, mas não é assim, infelizmente”, lamenta a enfermeira. 

Fim da licença maternidade e empresas sem estrutura

O fim da licença maternidade é outro ponto que costuma atrapalhar a amamentação de um bebê. No Brasil, a lei para trabalhadores formais exige um período de afastamento de 120 dias, possivelmente estendidos por mais 60 se a empresa assim optar.

O retorno às atividades com a criança tendo apenas quatro meses costuma favorecer o desmame precoce. Vale lembrar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que todo bebê tenha ao menos seis meses de alimentação exclusiva com leite materno. 

Viviane ressalta que é possível manter a amamentação no intervalo não contemplado para os casos de licença de apenas quatro meses, mas isso requer planejamento e uma rede de apoio presente, algo que infelizmente não é ofertado a muitas mulheres. 

Essa mulher volta ao trabalho. A empresa que ela trabalha dá suporte para que ela tire o leite durante o expediente? Ela oferece uma flexibilização de horário para que essa mulher possa se adaptar? Onde que ficou esse bebê enquanto ela trabalhava? Esses cuidados conseguem apoiar a manutenção da amamentação sem que ele seja feito em uma mamadeira“, observa a nutricionista.

A doula carioca Monique Eleotério (@moniqueeleoterio_) atua no ramo há três anos e lembra que a licença maternidade é um privilégio não ofertado a todas às mães. “Nos primeiros meses é muito dado socialmente que a criança precisa daquilo ali. Mas depois é muito difícil a gente ver pessoas que atinjam a recomendação de dois anos de amamentação. Não é comum, no mundo real, isso acontecer.

Ter uma rede de apoio e bem informada faz toda a diferença

Cercar a dupla mãe e bebê de apoio e acolhimento é algo fundamental para tornar o processo de amamentação mais confortável. Além de promover uma escuta ativa às necessidades daquela mãe, é preciso se informar para entender como ajudar nos processos. 

A gente precisa compartilhar conhecimento com a rede de apoio e eu não estou incluindo pai em rede de apoio. Pai não é rede de apoio, é corresponsável”, observa Monique. “Mas se as pessoas estão dispostas a realmente apoiar, eu acho importante ter esse compromisso de se informar”, pontua. 

A doula ressalta que, de maneira geral, a primeira linha da rede de apoio é formada pelas avós do bebê e que essa experiência do puerpério pode ser “tanto maravilhosa quanto trágica”. Isso porque, por vezes, elas podem acabar reproduzindo violências que sofreram no processo de maternar seus bebês. “A gente tem muitas histórias de casos em que a amamentação não foi à frente por conta disso”, lamenta. 

Para Monique, é importante ter uma rede de apoio que esteja disposta a compartilhar informações com a lactante, além de reconhecer a autonomia e a capacidade dessa mulher e respeitar suas escolhas. “Entender a importância da privacidade é fundamental”, coloca. 

Na sociedade que a gente vive, a gente tem essa cultura muito forte de infantilizar a gestante e a recém mãe. É uma necessidade muito grande de jogar para aquela mulher pequenas regras como quem diz ‘agora, tudo é assim’. E quando a gente faz isso, a gente silencia aquela mulher em um momento de extrema fragilidade. Os palpites de plantão não são só palpites, são processos que podem causar traumas. São instrumentos que podem acabar ou transformar experiências”, reflete. 

A gente tem um bebê ali, mas também há uma pessoa que tem tanta importância quanto essa criança que está nascendo. Você não tem que decidir entre a mãe e o bebê. O bebê, é claro, tem que ser protegido por N questões, mas também há uma mulher ali.

Indústria da fórmula: a complementação alimentar costuma desestimular a amamentação

Há uma preocupação recorrente entre profissionais da área sobre o que se chama de “indústria da fórmula”. Fórmulas são complementos alimentares que podem ser oferecidos ao bebê em determinadas circunstâncias. Não se pode fazer uma completa demonização da substância, mas sua utilização deve ser observada em cada caso e com muito cuidado. 

A fórmula pode ser importante em algum momento? Sim, no entanto ela não pode ser a regra, mas sim a exceção”, ressalta Viviane. 

Viviane observa que as primeiras semanas são de muita fragilidade e, diante das dificuldades, muitas mães acabam aceitando a possibilidade de um desmame precoce, influenciado pela utilização de outros bicos, como mamadeira ou chupeta.

Quando a amamentação não rola numa boa, pode surgir a dor e pode machucar a mulher. Nesse momento, a mãe que acabou de parir e já lida com outros desconfortos pode ficar ainda mais fragilizada. Ela tende a receber a possibilidade de um desmame e já não vai mais amamentar em livre demanda”, exemplifica

“Quando sugerem a ela uma mamadeira para descansar, ela pode acolher essa ideia ou dar uma chupeta porque o bebê está muito chorão. Tudo isso vai colaborar para essa amamentação não continuar. E aí você pode mergulhar naquelas ideias de que o seu leite não é suficiente, de que talvez você não dá conta na produção do leite.

Cirurgias plásticas de redução de mama podem dificultar a amamentação

Martha Goldberg observa outro ponto de atenção na hora do aleitamento materno: mulheres que já realizaram algum tipo de cirurgia mamária, especialmente as de redução de seio, podem ter maiores dificuldades de amamentar. 

A cirurgia de implante de silicone é menos comprometedora. Na verdade, na maior parte dos casos, ela não compromete. Mas na fase da apojadura, que é quando ocorre a descida do leite, ali entre o terceiro e quinto dia do bebê, a mama muda completamente. Ela fica muito cheia, pesada e dolorida. A pessoa que tem silicone costuma sentir ainda mais dor e isso acaba dificultando o manejo do fluxo do leite. Mas com cuidado e atenção, é possível passar por essa fase também”, observa. 

Ela explica que a cirurgia de redução de mama, na maior parte das vezes, compromete os dutos mamários. Por conta disso, o fluxo de leite acaba nunca sendo perfeito. “Onde deveria fluir 2x de leite, flui um só”, exemplifica. Nas regiões da mama em que a drenagem foi interrompida é como se tudo ficasse adormecido. Não é como uma mama que nunca foi mexida.

O uso da fórmula acaba sendo recorrente nesse tipo de caso. Martha observa que se deve fazer de tudo para manter o aleitamento exclusivo, mas que essa é uma questão limitante. A conclusão é que a quantidade que o bebê toma não é suficiente e ele não está ganhando peso adequadamente. É aí que ocorre a introdução do complemento, que pode desestimular a pega do bebê. “Ele mama o peito e recebe o complemento na mamadeira e isso logo desestimula a amamentação”, diz. Mas há uma forma de contornar essa situação. 

A técnica conhecida como relactação ou indução da amamentação é bastante usada para casos em que o bebê realmente precisa de complemento alimentar. Ela utiliza de uma pequena sonda, como um canudinho de silicone, que é colocado junto com o peito na boca do bebê. Assim ele mama no peito e o complemento ao mesmo tempo. “Assim a gente resolve a questão da alimentação do bebê e ele permanece mamando no peito. É um aleitamento misto, mas que permanece no peito.

Fonte: Hypeness

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