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Conheça a medicina do estilo de vida, que é capaz de reduzir doenças em até 80%

– Nossos genes não são o nosso destino – define a médica Sley Tanigawa.

É a partir dessa afirmação que entendemos mais a medicina do estilo de vida, área que se propõe a olhar não só para o tratamento, mas para a prevenção de doenças por meio de intervenções nos hábitos de vida. Ora, se a genética não é tudo, temos em mãos o imenso poder de cuidar e mudar os rumos da nossa saúde.

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– A carga genética define 20% (da nossa saúde), o restante é todo relacionado a estilo e condições de vida. Ou seja, conseguimos interferir em muita coisa. Não é verdade que, com o passar dos anos, todo mundo têm que ter diabetes ou hipertensão – completa Sley, que é presidente do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV) e coordenadora da Pós-graduação em Estilo de Vida do Hospital Israelita Albert Einstein.

Tal qual a medicina tradicional, a do estilo de vida se baseia em evidências científicas. Não é achismo ou algo alternativo, observa a médica. As diferenças entre ambas aparecem, principalmente, em dois aspectos: o olhar global que se tem do paciente, não focando em uma questão específica, e a preconização da prevenção por meio da adoção de hábitos de vida saudáveis.

– A medicina tradicional se baseia em diagnóstico e tratamento. A do estilo de vida, na prevenção, melhora e até cura de doenças. No meu ponto de vista, elas são complementares, pois não vamos deixar de fazer diagnóstico ou usar medicamento quando necessário – resume Sérgio Fernando Monteiro Brodt, chefe do Serviço de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento (HMV).

Outra característica da medicina do estilo de vida é o empoderamento do paciente. Isso significa que a relação com o médico é mais horizontal e o atingimento dos objetivos não depende só da prescrição do profissional. As prioridades são definidas em conjunto, afirma André Moschetta, diretor estadual do CBMEV-RS:

– O paciente deixa de ser paciente e passa a ser ator. Ele é proativo. Só quando ele desempenha esse papel é possível mudar hábitos a longo prazo.

A prática usa o conhecimento por trás dos nossos costumes, como sono, estresse e relacionamentos, na definição de Moschetta. O médico lembra que muitos estudos já provaram que os hábitos têm impacto no desenvolvimento de doenças. E aponta: cerca de 80% das doenças podem ser prevenidas com a adoção de ações simples como atividade física, alimentação equilibrada, sono em quantidade e qualidade adequadas, controle de tóxicos e do estresse e atenção aos relacionamentos.

Esses seis aspectos são a base que fundamenta toda a construção da medicina do estilo de vida. Sley complementa: com intervenções intensivas no estilo de vida, seria possível prevenir 91% dos casos de diabetes, 81% dos de infarto, 50% dos de acidente vascular cerebral e 36% dos de câncer. 

Também há pesquisas que sugerem que 80% das mortes prematuras podem ser atribuídas a três fatores modificáveis: tabagismo, alimentação insalubre e sedentarismo. Fora a prevenção, manter hábitos saudáveis ainda pode melhorar quadros pré-existentes.

– O que vemos ao longo dos programas de medicina do estilo de vida é uma “desprescrição” médica. Conforme a pessoa faz a mudança, muitas vezes, os médicos têm que ir tirando as medicações. Não é “pare de tomar remédios”, pelo contrário, conforme o paciente melhora o estilo de vida, o organismo se ajusta – diz Sley.

A origem

  • Nos EUA, o American College of Lifestyle Medicine foi fundado em 2004. No Brasil, desde 2017 a medicina de estilo de vida é considerada uma especialidade médica. O Colégio Brasileiro de Medicinna do Estilo de Vida (CBMEV) foi fundado em 2018 e, apartir de 2019, profissionais começaram a ser formados na área no Hospital Albert Einstein. Trata-se, atualmente, de uma área de atuação, não uma especialidade médica no Brasil. Como é multidisciplinar, os médicos atuam junto a outros profissionais da saúde para garantir a saúde dos pacientes. 

Os pilares 

Para colocar em prática a mudança de hábitos, a medicina do estilo de vida se fundamenta em seis bases que, em equilíbrio, dão mais qualidade de vida aos pacientes: nutrição, atividade física, sono, controle de tóxicos, manejo do estresse e dos relacionamentos. Saiba mais sobre cada um:

  • Nutrição – Foca em alimentos integrais, preferencialmente in natura e minimamente processados. Isso, explica André Moschetta, diretor do CBMEV no Estado, traz antioxidantes, fibras, vitaminas e sais minerais ao organismo.  “Não há uma defesa do veganismo ou do vegetarianismo. Valorizamos o mais natural, e isso inclui, sim, a depender das preferências pessoais e culturais, carnes e ovos”, diz o médico.
  • Atividades físicas – Aquela boa e velha recomendação de praticar 150 minutos semanais de atividades físicas segue em pé, no entanto, o que os especialistas destacam é que essa orientação não exige, necessariamente, fazer algum esporte ou frequentar academia. Basta mexer o corpo. “Caminhar, pedalar e usar a escada são alternativas”, sugere Sérgio Fernando Brodt, do Hospital Moinhos de Vento.
  • Relacionamentos – Nossas relações impactam diretamente na qualidade de vida. Com a pandemia e período de isolamento que ela impôs, isso ficou ainda mais evidente. “Estudos já mostraram que a solidão é tão nociva quanto fumar de 10 a 15 cigarros por dia”, compara Sley Tanigawa, presidente do CBMEV.  Moschetta acrescenta que as pessoas mais solitárias têm risco até 40% maior de morrer, na comparação com as demais. O convívio regular com família e os amigos é uma questão de saúde.
  • Controle dos tóxicos – Largar o cigarro é fundamental. Além disso, não se deve abusar no consumo de álcool e também ficar atento a questões como os agrotóxicos e poluição ambiental.  “Um conceito importante na medicina de estilo de vida é a preocupação com o planeta, entendendo que essa visão de contexto é fundamental para saúde”, explica Moschetta. 
  • Manejo do estresse – Cuidar da saúde mental tem se tornado um mantra em tempos de pandemia. O estresse relatado pela população cresceu no período, aumentando a importância de um olhar atento sobre o tema. No dia a dia, indica Sley, uma caminhada ao ar livre, uma boa espreguiçada e uma pausa no trabalho podem fazer a diferença para se viver bem. É que o estresse é indigesto para o nosso corpo, sendo gatilho para diversas doenças. Por exemplo: pode aumentar em quatro vezes o risco de se desenvolver câncer de próstata. 
  • Sono – Quando o sono é ruim, pode trazer prejuízo para a memória e a concentração e aumentar o estresse, enumera Brodt. A quantidade e a qualidade insuficientes também são fatores de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como de mama, endométrio, próstata e cólon.7

Fonte: Gaúcha ZH

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