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Estudo aponta ineficácia e risco do uso de anticoagulantes no tratamento da covid-19

O uso de medicamentos anticoagulantes em pacientes com covid-19 não melhorou os resultados ou reduziu a mortalidade dessas pessoas. Pelo contrário: houve aumento significativo do risco de hemorragia em doentes que receberam os medicamentos, levando à conclusão de que há mais malefícios do que benefícios nesse tipo de tratamento. 

São esses os principais resultados de um estudo realizado pela Coalizão Covid-19 Brasil, iniciativa de pesquisa conduzida pelos hospitais Moinhos de Vento, de Porto Alegre, Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet). 

A pesquisa foi feita a fim de verificar a eficácia do uso de anticoagulantes (rivaroxabana em pacientes estáveis e heparina em pacientes instáveis) para evitar casos de trombose em pacientes de covid-19, o que ocorre em vítimas da doença das mais variadas formas e magnitudes e em diferentes locais do corpo, alguns deles só detectados nas necropsias. A ocorrência de trombose chega a ser nove vezes superior a de outras infecções, como as causadas pela H1N1. 

– Talvez pela “tempestade inflamatória” que a covid-19 causa, isso possa mexer tanto com o sistema de coagulação do organismo que o paciente começa com muita trombose – explica o médico Renato Lopes, diretor do BRCI e membro do Comitê Executivo da Coalizão Covid-19 Brasil, professor da Duke University, em Durham, nos Estados Unidos. 

O que ocorreu a partir dessa observação é que passou ser amplamente utilizado em instituições brasileiras de forma “off label” (sem recomendação na bula) o uso de anticoagulantes de forma terapêutica. Ou seja, em doses mais altas do que o uso natural desses medicamentos, que são ministrados de forma profilática a quaisquer pacientes acamados por um período mais longo de tratamento. 

Após comparar dois grupos de pacientes que receberam e que não receberam as medicações, a conclusão foi de que, após 30 dias, a incidência de trombose não foi significativamente diferente entre eles. Porém, as taxas de sangramentos foram maiores e relevantes. Conforme Lopes, desautorizar o uso de medicamentos sem eficácia é importantíssimo no combate à doença: 

– Mostrar que uma conduta que está sendo amplamente utilizada de forma off label, baseada em opiniões isoladas e achismos, não funciona e é mais prejudicial, é muito importante. Porque, sim, você está ajudando o paciente com covid-19 a se curar. Devemos lembrar que curar, antes de fazer o bem, é não fazer o mal. 

O pesquisador ressalta ainda a importância de se basear em pesquisas científicas para respaldar o uso de fármacos, tendo em vista que a observação clínica particular dos médicos não raro leva a resultados equivocados. Isso ocorre pela impossibilidade de testar a eficácia dos tratamentos se utilizados em toda uma população, de forma sistemática: 

– Um estudo que tenha um número grande de pacientes, que esse grupo seja representativo do país e dos diferentes serviços de saúde, que seja representativo de diferentes faixas etárias e comorbidades…  A única maneira de saber se algo funciona de forma sistemática é se contemplar todos esses elementos. E não é a melhor, é a única forma de se medir o efeito de um tratamento. 

Como o estudo foi feito 

Foram selecionados 3.331 pacientes em 31 instituições do Brasil. Desses, foram incluídos 615, seguindo os seguintes critérios de elegibilidade: diagnóstico confirmado para o coronavírus, duração dos sintomas relacionados à internação menor ou igual a 14 dias, e dímero D (proteína envolvida na formação dos coágulos) elevado no momento de entrada hospitalar. 

Por meio de sorteio, 311 pacientes passaram a receber tratamento anticoagulação e 304 a fazer uso preventivo de anticoagulantes.  

A média de idade dos participantes era de 56,6 anos, sendo que 60% deles eram homens. Além disso, 48,6% dos pacientes do grupo que se tratava com anticoagulantes e 49,7% do grupo que o usava de maneira preventiva eram hipertensos. Os diabéticos correspondiam a 26,7% dos pacientes do grupo terapêutico e 22% do grupo preventivo. 

Após 30 dias de medicação, “a incidência de eventos trombóticos não foi significativamente diferente entre os grupos”. Porém, as taxas de sangramentos maiores e relevantes “foram significativamente mais elevadas entre os pacientes recebendo anticoagulação terapêutica quando comparados com os que receberam anticoagulação profilática”. 

Fonte: GaúchaZH

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